Era um papagaio que morava numa floresta brasileira. O nome dele era Prequeté. Prequeté falava, falava sem parar:
- Currupaco, paco e tal, quero ir pra Portugal!
Prequeté berrava tão alto, que a estrela abriu a janela do céu e bocejou, ainda sonolenta, pois não tinha chegado a hora de a estrela acordar:
- Prequeté, Portugal fica daquele lado de lá… e chega de gritaria! Ainda é dia… e eu dormia!
Prequeté prestou atenção para onde apontava a estrela, bateu asas e voou. Queria porque queria chegar a Portugal.
Prequeté, voando, passou por uma nuvem-ovelha que tecia um gorro com lã de neblina.
- Dona Nuvem-Ovelha, me empresta este gorro, que vou pra Portugal e lá faz frio, currupaco, paco e tal, que eu vou pra Portugal!
Foi assim que Prequeté ganhou um gorro, que parecia um chapéu de marinheiro.
Prequeté passou por montanhas altas, chuva e sol. Até que chegou na beira da onda da praia, exclamando, depois de experimentar o gosto da água:
- Mas que gostinho de sal! Será que esta água me leva pra Portugal?
Gaivota Maricota, que voava por ali, explicou:
- Prequeté, esta água é de mar. Portugal fica longe, depois de muita onda, peixe e horizonte. Você não vai agüentar ir voando, é demais para suas asas!
- E o que farei, Gaivota Maricota?
- O jeito é ir de barco. Prequeté, para ir a Portugal, é preciso navegar!
- Navegar é preciso! - exclamou Prequeté.
E Prequeté construiu um barco feito de um pedaço de coco, que estava ali, caído perto de um coqueiro. A vela do barco era uma folha de bananeira, ainda pequenina. Prequeté virou um marinheiro e dizia:
- Currupaco coisa e tal… quero ir pra Portugal!
Lá se foi o barquinho por ondas, ventos e tempestades. Viajou, viajou, até que chegou numa linha de barbante, chamada horizonte. Ali, as sereias estendiam os lençóis d’água ao sol. Eram sereias-lavadeiras que cantavam entre o céu e o mar.
- Currupaco coisa e tal, me digam belas sereias, onde fica Portugal?
Os cabelos das sereias apontaram para longe, muito além do horizonte. Prequeté seguiu no barquinho, navegando, navegando, até encontrar a Fada Lua, que tomava banho de mar, boiando, com uma touca na cabeça pra não molhar seu luar.
Fada Lua, currupaco, paco, paco, coisa e tal, será que a senhora sabe onde fica Portugal?
- Prequeté, você segue aquela corrente marítima, passa por aquela ilha, dobra a esquina da baleia. É por ali! - respondeu a Fada Lua, piscando estrelas.
Prequeté seguiu adiante, até chegar na baleia, que estava aflita porque queria vestir um vestido de cetim, muito apertado, e dizia:
- Engordei demais! O vestido não entra em mim… Virei uma baleia, creia! Foi de tanto comer docinhos portugueses! Ai, que perdição!
- E onde a senhora comeu docinhos portugueses? - perguntou Prequeté, com a barriga roncando de tanta fome.
- Foi em Portugal, capital Lisboa… ai, que comidinha boa! - falou a baleia, engordando mais trinta e sete quilos, só de reclamar.
E a baleia apontou, mostrando uma direção!
Prequeté remava com as asas, para chegar mais depressa.
Depois de três horas e vinte e dois minutos, Prequeté chegou, afinal, na boa terrinha de Portugal.
E o que foi que ele fez?
Comeu papos-de-anjo, toicinhos-do-céu, barrigas-de-freira (que nomes engraçados os dos doces portugueses!), e dançou o vira que vira, que torna a virar…
E vira que vira, e vira virou… no vira e virado o vira errou, errou o passo, tropeçou e caiu dentro de uma caravela, que estava no cais. Quem estava dentro dela?
Dentro dela estava um tal de Pedro Álvares Cabral, que saiu de Portugal.
E foi assim, creia em mim, que numa bela caravela, currupaco, paco e tal, Prequeté, o papagaio, navegando e reclamando…
Ora já se viu? Voltou de novo ao Brasil.
Diz a história e eu repito: foi em 22 de abril!
Sylvia Orthof
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